Portfólio

Inspirado em procedimentos criativos utilizados por Miró e Mondrian — e descritos por João Cabral de Melo Neto no poema “O Sim Contra o Sim (Serial)” — este trabalho parte da proposta de desaprender os caminhos mais conhecidos da criação artística, buscando novas formas de fazer e pensar arte.

[Miró, destro, teria começado a usar a mão esquerda para reencontrar uma linha ainda fresca; Mondrian teria acoplado réguas e esquadros às mãos para forçar o abandono da improvisação habitual.]

Imersos em longas quarentenas individuais, os artistas envolvidos compartilhavam uma inquietação comum, destacada em suas conversas: o que pode emergir deste período? Que tipo de fluxo pode encontrar aquilo que se gera internamente neste estado em que estamos?

Exsurgência — termo da hidrologia que designa o ponto onde nasce um curso d’água; zonas ou pontos de descarga de um aquífero — é aqui também metáfora para a origem de um fluxo criativo subterrâneo, silencioso e latente. A instalação propõe tornar visível esse lugar de surgimento: onde o interno encontra forma, onde a experimentação substitui a repetição, e onde o corpo, a matéria e o tempo se reorganizam em novos gestos.